As Intermitências da Morte - José Saramago

O livro começa com a frase "No dia seguinte ninguém morreu" e a partir daí assistimos a um desenrolar de divagações sobre o que é a vida, a morte, a família, a política, o amor, a falta dele, a igreja, a maphia.
É uma excelente critica à sociedade, à sua organização e desorganização, aos políticos dominados e ludibriados pela maphia, a um Rei sem poderes aparentando tê-los e, claro está, não podendo nunca faltar em José Saramago, à igreja.
O livro passa-se num país, sem nome, podendo ser muito bem Portugal, onde a partir do dia 31 de Janeiro às 23h59m se deixou de morrer. De início o encanto por uma vida eterna leva a população a um estado de alegria contagiante. Depressa as agências funerárias surgem a anunciar a sua ruína, assim como os lares de terceira idade, os hospitais e a igreja que perde o seu sentido de existência. Com o tempo as pessoas apercebem-se que os que estão doentes continuarão assim eternamente, num estado de "morte em vida". Este fenómeno levanta questões morais às famílias que têm familiares moribundos em casa e que nada podem fazer por eles. Decidem então levá-los à fronteira mais próxima e assim deixá-los morrer e descansar em sossego.
Num certo momento, a morte, com letra pequena porque é assim que gosta de ser tratada, anuncia publicamente através de um carta lida, por um jornalista, no telejornal nacional, que a partir de então as pessoas passarão a morrer novamente, anunciando essa morte através de uma carta de cor violeta enviada por ela própria utilizando o sistema nacional de correios. “a partir da meia-noite de hoje se voltará a morrer tal como sucedia, sem protestos notórios (...) ofereci uma pequena amostra do que para eles seria viver para sempre (...) a partir de agora toda a gente passará a ser prevenida por igual e terá um prazo de uma semana para pôr em dia o que ainda lhe resta na vida”. É o pânico, por um lado, a vida eterna acabara e os moribundo começam a morrer e por outro o pânico pela ansianda chegada da tal carta cor violeta.
O resto da história, para mim, foi o melhor, não a descreverei aqui não vá alguém ter curiosidade de ler o livro e aqui possa estragar o final maravilhoso e apaixonante que Saramago escolheu para esta estranha história.
À medida que chegava ao final do livro dei por mim a ter sentimentos de pena e compaixão pela morte. Estranho, eu sei, mas Saramago escreveu de tão bela maneira este romance que passamos a ter sentimentos humanos por algo que supostamente não é humano, melhor ainda, é completamente desumano já que a sua função é matar (mas coitada ela não teve culpa da função que lhe deram). E o livro termina "No dia seguinte ninguém morreu"

"Porém, do outro lado da cama, enroscado sobre o tapete como um novelo, dormia um cão mediano de tamanho, de pêlo escuro, provavelmente negro. Ao emnos que se lembrasse, foi esta a primeira vez que a morte se surpreendeu a pensar que, não servindo ela senão para a morte de seres humanos, aquele animal se encontrava fora do algance da sua simbólica gadanha, que o seu poder não poderia tocar-lhe nem sequer ao de leve, e por isso aquele cão adormecido também se tornaria imortal, logo se haveria de ver por quanto tempo, se a sua própria morte, a outra, a que se encarrega dos outros seres vivos, animais e vegetais, se ausentasse como esta o tinha feito e, portanto, alguém tivesse um bom motivo para escrever no limiqar de outro livro " No dia seguinte nehum cão morreu"".

"Muito mais tarde, o cão levantou-se do tapete e subiu para o sofá. Pela primeira vez na sua vida a morte soube o que era ter um cão no regaço."

"A morte dos humanos, neste momento uma ridicularia de sete milhões de homens e mulheres bastante mal distribuídos pelos cinco continentes, é uma morte secundária, subalterna, ela própria tem perfeita consciência do seu lugar na escala hierárquica de tânatos, como teve a honradez de reconhecer na carta enviada ao jornal qe lhe havia escrito o nome com inical minuscula."